PUTIN FOMENTA ORGASMO ATÓPICO E PSEUDOCIESE

Na última década, a China ultrapassou os Estados Unidos da América no investimento em África através de projectos de infra-estruturas altamente visíveis, frequentemente financiados através de empréstimos que totalizaram mais de 120 mil milhões de dólares desde o início do século. Agora assiste-se, em África, ao renascer do orgasmo atópico e à pseudociese (gravidez imaginária) provocados por Vladimir Putin. Angola também está a ser infectada.

No seu discurso aos líderes africanos, na Cimeira EUA-África, o Presidente Joe Biden anunciou um pacote de ajuda de 100 milhões de dólares para energia limpa e a Casa Branca revelou mais 800 milhões de dólares em financiamento público e privado para o desenvolvimento digital em África.

Num dos maiores anúncios empresariais, a Visa disse que iria injectar mil milhões de dólares em África para desenvolver pagamentos digitais – uma área em que a China emergiu como líder global.

A Cisco e a parceira Cybastion afirmaram que se comprometeriam a investir 888 milhões de dólares para reforçar a segurança cibernética através de 10 contratos em toda a África, abordando uma vulnerabilidade chave, e o Grupo ADB prometeu 500 milhões de dólares a partir da Costa do Marfim para centros de tecnologia da nuvem que possam atrair grandes empresas americanas.

“Estou a anunciar uma nova iniciativa, a transformação digital com África, trabalhando com o Congresso para investir 350 biliões de dólares para facilitar mais de quase meio bilião de dólares em financiamento para garantir que as pessoas em toda a África possam participar numa economia digital”, disse Biden.

A Microsoft disse que iria empregar satélites para levar o acesso à Internet pela primeira vez a cerca de 10 milhões de pessoas, metade das quais em África, a começar no Egipto, Senegal e Angola.

Biden referiu ainda o projecto de energia solar com Angola, mais precisamente em Benguela, que corresponde a um financiamento de dois biliões de dólares e que tem como objectivo garantir energia limpa para quatro províncias angolanas.

Em África, “não há falta de talento, mas há uma enorme falta de oportunidades”, disse o presidente da Microsoft, Brad Smith, à AFP.

A China nega as acusações dos EUA de estar a impor uma “armadilha da dívida” em África e por sua vez acusou Washington de transformar o continente num campo de batalha geopolítico.

Biden anunciou que quatro nações – Gâmbia, Mauritânia, Senegal e Togo – foram seleccionadas para conceber futuras subvenções dos EUA através da Millennium Challenge Corporation, que financia projectos em países que cumprem as normas chave sobre boa governação.

O Secretário de Estado Antony Blinken participou na assinatura de um pacote de infra-estruturas no valor de 504 milhões de dólares através da corporação que ligará o porto de Cotonou do Benin à capital do Níger, Niamey, sem saída para o mar, com funcionários norte-americanos a estimar que 1,6 milhões de pessoas irão beneficiar.

“Há muito tempo que consideramos que este é o nosso porto natural”, disse o então Presidente do Níger, Mohamed Bazoum, ao prometer “reformas institucionais” para apoiar o comércio.

O Presidente do Benin, Patrice Talon, agradeceu aos Estados Unidos por abordar o desenvolvimento, dizendo: “A atractividade de África deve fazer parte da relação com os EUA”.

Numa alusão velada à China, Blinken disse que o acordo não “sobrecarregará os governos com dívidas”.

Por sua vez, o Presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que o seu país “apoia os desejos dos Estados africanos por estabilidade e progresso social e económico” e pretende desenvolver ainda mais a cooperação com África, acrescentando que África está a tornar-se “um dos polos do mundo multipolar emergente”.

“Hoje, a África apresenta-se cada vez mais com confiança e como um dos polos do mundo multipolar emergente”, afirmou a mensagem do Presidente, publicada no portal do Kremlin, no âmbito da cimeira Rússia-África, que decorreu na cidade russa de São Petersburgo.

Putin acrescentou que no continente africano “as mudanças positivas estão a ganhar força na produção e na agricultura, na infra-estrutura de transporte e no complexo de combustíveis e energia, e ainda na saúde, educação e outras áreas”.

O Presidente russo garantiu que o seu país “apoia os desejos dos Estados africanos por estabilidade e progresso social e económico” e pretende desenvolver ainda mais a cooperação com África em áreas importantes como a luta contra a pobreza, a segurança alimentar e as mudanças climáticas.

A primeira reunião entre a Rússia e a África foi realizada em Outubro de 2019, na cidade de Sochi (Mar Negro) com o lema “Pela paz, segurança e desenvolvimento”, tema que se repete neste ano.

“Do lado africano, a manutenção de relações com a Rússia é importante, mas menos impactante que a existência de boas relações com os EUA e com a União Europeia. Para dar um exemplo desta postura, na Cimeira EUA-África de Dezembro de 2022, já bem depois da invasão russa da Ucrânia, participaram 49 países e estiveram presentes 35 chefes de Estado africanos, o que compara com o mesmo número de países, mas com metade das representações de alto nível na Cimeira de São Petersburgo”, escreveu Fernando Jorge Cardoso (Professor da Universidade Autónoma de Lisboa) no Diário de Notícias (Portugal).

Fernando Jorge Cardoso continua: “Em termos de dimensão e estrutura do PIB, a Rússia pouco tem a oferecer para modernizar as economias africanas. O PIB russo é pequeno, em 2022 terá sido de 2,2 milhões de milhões de dólares (sensivelmente o mesmo da Itália, com 40% da população). Na verdade, a economia russa depende da exportação de matérias-primas (cereais e hidrocarbonetos), de fertilizantes… e de armamento.

«No domínio do comércio externo, os 14 mil milhões de dólares de importações e exportações com países africanos em 2022, não são equiparáveis aos 295 com a União Europeia, 254 com os EUA ou 65 com a China.

«No domínio dos investimentos, a Rússia representa menos de 1% dos investimentos externos em África. Os esforços que tem vindo a fazer para vender centrais nucleares esbarram com custos proibitivos – com a possível excepção do Egipto, onde contratou um investimento de 60 mil milhões de US$. O mesmo se pode dizer do investimento em hidrocarbonetos, que pouco tem passado do papel.

«A reduzida dimensão dos números globais não significa que a composição das exportações russas seja despicienda para alguns países africanos – caso das exportações de trigo, de fertilizantes e de armamento.

«Egipto, Argélia, Marrocos e África do Sul concentram hoje mais de 70% do comércio externo africano com a Rússia. Para os países do norte de África, os fertilizantes e o trigo russo (30% das importações deste cereal) são fulcrais.

«A Rússia tem vendido cerca de metade do armamento comprado por países africanos, com Argélia, Egipto e Angola a representarem 94% do total. Já a “exportação” de serviços de segurança concentra-se na República Centro Africana, Líbia (região da Cirenaica), Mali e Chade – neste caso em apoio a grupos antigovernamentais. Após a rebelião de Prigozhin, o futuro do Grupo Wagner é incerto e a guerra da Ucrânia dificulta o envio de unidades especiais do exército russo para solo africano.

«Moscovo deverá oferecer trigo – até para lavar as mãos do fim dos acordos de trânsito de cereais ucranianos pelo Mar Negro. Porém, a Rússia não tem o essencial: capacidades económicas para contribuir para a modernização das economias africanas. Os líderes presentes sabem-no bem, para lá da retórica e dos acordos que firmem. Em suma, os impactos da cimeira serão marginais, sem força para desequilibrar o cenário geopolítico.»

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